terça-feira, 22 de abril de 2008

sobre as relações virtuais

Sobre as relações virtuais

A tarefa de escrever sobre as relações ditas “virtuais” é arriscada, pois que, muitas questões perpassam este tipo de relação. Poderíamos pensar como propõe Bauman[1] que vivemos a era dos amores líquidos e que os “encontros” por serem tão rápidos e descartáveis nos deixam esta ânsia pelo encontro com o Outro/Alteridade. Seguindo este raciocínio poderíamos pensar que estas relações refletem exatamente a sociedade que vivemos, a dita era da modernidade líquida, em que tudo se desfaz com extrema rapidez, vivemos a era do excesso; excesso de informação, de preocupação, de medo. O indivíduo contemporâneo tem medo de perder o emprego, de ficar doente, de não ter amor e também tem o medo de ter medo e assim como suportar tantos medos, tantos desterritórios[2]? Parece ser exatamente ai que entram as relações “virtuais”, que proporcionam um escape de nosso mundo “real”, algo que seja diferente de nossas vidas cotidianas, muitas vezes, por nós consideradas sem o mínimo glamour. Várias questões podem ser problematizadas, existe a possibilidade de conhecermos pessoas distantes geograficamente que de outra forma não conheceríamos. Outra situação é que em geral nos contatos virtuais trocamos idéias antes de vermos a imagem da pessoa, o que facilita o diálogo para as pessoas mais tímidas, ou que não gostam de sair a noite, por exemplo. No entanto, existe também o risco daquelas paixões platônicas que são mais projeções de nossos desejos, do que qualquer outra coisa. Obviamente as projeções podem ocorrer nas relações presenciais também. Parece que a questão a ser pensada é o que representa para cada pessoa esta busca pelo Outro/Alteridade, temos que estar atentos para avaliar em que medida esta busca não reflete frustrações nossas. E como já diz Chico Buarque: “Não se afobe não, que nada é para já, amores serão sempre amáveis”. Devemos estar abertos para experimentar o amor quando este se fizer presente em nossas vidas.

Janete Schubert

Referências

BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

DELEUZE, G. e GUATTARI, F. 1997. Mil Platôs: capitalismo e esquizofrenia. Vol. 5. Rio de Janeiro: Ed. 34.

Música:Futuros Amantes de Chico Buarque de Hollanda.



[1] BAUMAN, Zygmunt. Modernidade líquida. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2001.

[2]Desterritorialização é, nas palavras de Gilles Deleuze, uma "palavra bárbara" proposta por Felix Guattari para o entendimento de processos inicialmente psicanalíticos mas posteriormente ampliados para toda a filosofia desenvolvida pelos dois autores, especialmente na obra Mil Platôs. Retirado de <http://pt.wikipedia.org/wiki/Desterritorializa%C3%A7%C3%A3o >acesso em abr de 2008.